O que sua cicatriz diz à você?
Teve um tempo que ela me gritava sobre o medo de estar chegando ao final da estrada, pavor do desconhecido, das incertezas, de como continuar vivendo com essa marca. Nesse tempo ela doía toda vez que era olhada…
Teve um outro momento que já não gritava, apenas falava sobre a dificuldade de lidar com a nova realidade, com o tratamento, com o novo que se tornava conhecido e com a estrada que começava a apresentar placas de direção. Nesta fase, quando olhava para minha cicatriz, não mais doía, apenas me batia uma melancolia …
Chegou o dia que, de tanto olhar o corte, já quase imperceptível, passei a vê-lo como a porta por onde foi retirado aquilo que não tinha mais o porque estar alí. Então, passou a significar a possibilidade de continuar aqui, vivendo , crescendo, aprendendo uma nova forma de caminhar por essa estrada que nunca deixou de existir, mas que, por um momento, eu deixei de ver.
A partir desta hora, não tiveram mais gritos, apenas sussuros no meu ouvido dizendo: ” Continue! Há muito a se fazer…”
Agora, vejo minha cicatriz , como marca daquilo que morreu e nasceu em mim, registro da minha busca por encontrar respostas para a vida, possibilidade de oferecer ” um copo de água” para quem, de forma sedenta, ainda olha sua cicatriz como o fim…
Olho para a marca que está no meu corpo, na minha barca e agradeço por não estar na minha alma!
Agradeço ao Universo a imensa capacidade que temos de ressignificar, de transformar e continuar…
Elaine Valente